A network for students interested in evidence-based health care

Opiniões de especialistas nem sempre estão corretas

Posted on 29th June 2018 by

Tutorials and Fundamentals

This blog is a Portuguese translation of the sixth in a series of 36 blogs, based on a list of ‘Key Concepts’ developed by an Informed Health Choices project team.   Read the English version here. With thanks to Leonardo Guimarães Fernandes and Cochrane Brazil for the translation.

—————————————————–

Uma quantidade saudável de ceticismo sempre que alguém faz uma consideração sobre um tratamento é importante. Este é o caso mesmo quando o indivíduo que faz a observação é considerado um especialista.

Precisamos distinguir entre os indivíduos que são especialistas por levarem em consideração a melhor evidência de pesquisa disponível, e os indivíduos que são considerados especialistas mas que não levam em consideração as evidências. De fato, a opinião de um “especialista” só pode ser correta se for baseada nas melhores evidências disponíveis.

Os cuidados de saúde não devem ser baseados em aprendizado não crítico e passivo do tipo mestre-aprendiz, onde as opiniões de especialistas são tomadas como verdades irrefutáveis. Em vez disso, o pensamento crítico proativo é necessário. Você deve questionar as alegações feitas por especialistas, avaliando o raciocínio e a evidência por trás de suas declarações.

Agora vejamos alguns exemplos do por quê só podemos confiar em opiniões de especialistas quando estas forem baseadas na melhor evidência disponível…

Da fruta à prevenção da cirurgia de joelho desnecessária…

Uma história clássica que demonstra como os especialistas podem estar errados – e como apenas uma pesquisa rigorosa pode fornecer a base para afirmações sobre tratamentos – vem de 1747. Na época, havia incerteza sobre a melhor forma de tratar o escorbuto. A opinião de “especialistas” variava: algumas autoridades recomendavam o uso de vinagre, outros recomendavam o uso de ácido sulfúrico como tratamento. Mas foi James Lind, um cirurgião, que resolveu esta incerteza usando um teste apropriado. Ao comparar cuidadosamente 6 tratamentos, ele demonstrou que frutas (limões e laranjas) eram mais eficazes do que os tratamentos alternativos apoiados pelas autoridades daquele momento.

James Lind

Cerca de 260 anos depois, mesmo em se tratando de cirurgia não é tão diferente…

A meniscectomia artroscópica parcial (um tipo particular de operação do joelho) tem sido um dos tratamentos ortopédicos mais comuns em vigor. A teoria (ou seja, a explicação sobre como a intervenção funciona) e a eficácia perceptível deste tratamento têm sido amplamente aceitas e adotadas pelos ortopedistas. No entanto, recentemente, equipes de cirurgiões começaram a duvidar da sua eficácia até o ponto em que compararam o tratamento com uma técnica de cegamento cirúrgico chamada “Sham“, ou seja, uma simulação de cirurgia.

Após análise abrangente de todas as evidências disponíveis, com resultados robustos, os céticos estavam certos. Em média, os efeitos relevantes da cirurgia são, na melhor das hipóteses, pequenos – com implicações extremamente importantes para os ortopedistas. Adotar uma abordagem mais conservadora de tratamento (não se precipitando para realizar a cirurgia) não só pode economizar dinheiro, mas pode impedir que os pacientes passem por cirurgias desnecessárias.

Por quê opiniões de especialistas sobre os efeitos dos tratamentos por si só podem não ser confiáveis​​…

A ideia fundamental da prática baseada em evidências é a de que uma pessoa pode oferecer os melhores cuidados de saúde buscando e integrando as melhores evidências clínicas, conhecimentos clínicos e preferências do paciente/consumidor. As opiniões de especialistas isoladas não constituem base suficientemente confiável para apoiar cuidados de saúde, nem para saber sobre o efeito dos tratamentos.

Em resumo, aqui estão três idéias importantes:

1  Não se trata de quem declara que algo é verdadeiro,mas sim como eles julgam que algo é verdadeiro

A fonte de uma declaração é irrelevante para a veracidade da mesma. Somente o processo de geração de conhecimento – através de pesquisas rigorosas – possui alguma “autoridade”. Trata-se de entender a base de evidências por trás de uma declaração, não apenas aceitar uma declaração.

Por exemplo, por quê um leigo deve confiar na afirmação de que o universo tem cerca de 14 bilhões de anos, em vez de milhões ou trilhões de anos? Você não deve aceitar essa afirmação apenas porque afirmam ser verdade, mas sim porque houve cálculos rigorosos realizados para resolver esta questão.

Quanto mais você se educa sobre como uma conclusão específica foi alcançada, ou por que uma declaração está sendo feita, menos você simplesmente tem que “apostar” nas declarações dos outros.

2 Especialistas podem discordar… Então, quem está certo?

Médicos, pesquisadores, organizações de pacientes e outras autoridades geralmente discordam sobre os efeitos do tratamento. Algumas diferenças de opinião e controvérsias sobre condutas são difíceis de evitar (por exemplo, quando há falta de pesquisa sobre um tratamento específico ou problema de saúde). No entanto, outras diferenças de opinião podem ser simplesmente porque pesquisadores, médicos etc. não estão levando em consideração revisões sistemáticas de comparações apropriadas sobre tratamentos.

Sem levar em conta todas as evidências disponíveis sobre um tratamento específico, as diferenças de opinião sobre os tratamentos mais seguros e eficazes são inevitáveis. E assim como todos os outros, os especialistas são sujeitos à vieses e erros de raciocínio. Desta forma, se os clínicos simplesmente fizerem o que acham melhor em vez de basear suas decisões em todas as evidências disponíveis, eles podem não estar adotando a melhor conduta. E a variação de conduta pode ser prejudicial.

3 Não julgue um livro pela capa…

Existem indícios que podem ajudar a prever se especialistas (ou qualquer um) podem estar fazendo uma declaração confiável. Por exemplo, você pode ser mais propenso a confiar em uma declaração feita por um indivíduo que não tenha conflito de interesses. Ou no sentido oposto, você pode ser mais cético em relação a uma declaração sobre um novo medicamento “milagroso” se a pessoa que faz a declaração tem ligações financeiras com a indústria farmacêutica!.

No entanto, não existe nada que substitua para uma declaração baseada em uma revisão sistemática das evidências. Desta forma, não julgue um livro por sua capa e não suponha que um “especialista” esteja correto apenas porque ele é considerado um “especialista”. Não confie nas opiniões de especialistas sobre os efeitos dos tratamentos, a menos que eles tenham claramente baseado suas declarações em avaliações apropriadas e sistemáticas.

Referências

Recursos

Read the rest of the Portuguese translations in the series here

Take home message:

 

Tags:

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Subscribe to our newsletter

You will receive our monthly newsletter and free access to Trip Premium.